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Abortamento de vagens na soja: saiba como enfrentar o problema

O abortamento das vagens de soja virou uma preocupação frequente em diversas regiões
do Brasil. Na safra 2020/2021, por exemplo, o problema levou a Companhia Nacional de
Abastecimento (Conab) a revisar as projeções da produção de soja do Paraná, que teve
várias regiões com registro do abortamento das vagens nas lavouras de soja. Apesar de
muitas vezes ser provocado por fatores climáticos, algumas ações podem ser adotadas para
evitar o problema.
Um dos fatores que vem sendo associado ao abortamento é o déficit hídrico no período de
formação das vagens. A combinação de excesso de dias chuvosos, alta umidade do ar e
baixa incidência luminosa também foi verificada em áreas afetadas pelo abortamento. Por
isso, o agricultor deve ter atenção redobrada na fase mais crítica para o desenvolvimento
destas vagens que vão gerar os valiosos grãos, especialmente entre novembro e dezembro,
afinal, o abortamento pode trazer prejuízos irreversíveis, comprometendo a produção.
Também podem contribuir para o abortamento falhas como: manejo inadequado da
adubação e no uso de produtos químicos, por exemplo, herbicidas e inseticidas, ocorrência
de pragas ou falta de um manejo adequado do solo, explica Saulo Strazeio Cardoso,
coordenador do curso de pós-graduação em fertilidade do solo e nutrição de plantas nas
Faculdades Associadas de Uberaba (FAZU).
Quando não causado por fatores climáticos, o abortamento das vagens de soja pode ser
evitado pelos produtores. O primeiro passo é fazer a análise de solo com a correta
interpretação para se obter uma recomendação precisa dos nutrientes necessários para a
planta. Outra dica é que o produtor faça o monitoramento e o controle de pragas e doenças
no início da infestação, diz Cardoso. Também é preciso verificar a dosagem adequada de
insumos químicos a serem aplicados nas lavouras, evitando a aplicação aleatória destes
produtos. O produtor precisa estar muito atento a todas as práticas de manejo para evitar
alguns erros que podem trazer perdas na produção, e sempre buscar orientação de um
profissional especializado, alerta Cardoso.

Pesquisas em andamento

O abortamento também pode ocorrer devido ao apodrecimento das vagens, causado pelo
excesso de chuvas, por exemplo. De acordo com a Embrapa, o apodrecimento de vagens na
cultura da soja vem ocorrendo em diversas regiões brasileiras, em especial no estado de
Mato Grosso, o maior produtor de grãos do país, desde a safra 2019/2020, expandindo-se
na temporada 2020/2021. O problema é caracterizado pelo apodrecimento de grãos e
vagens, a partir da chamada fase R5.4, que representa de 51% a 75% da formação dos
grãos. Este apodrecimento causou redução de produtividade de até 20% e perda da

qualidade de grãos, além de gerar níveis de desconto nos valores dos grãos avariados que
chegaram a 30%, diz a Embrapa.
Estudos preliminares apontaram que os grãos dentro das vagens deterioradas
apresentavam elevados índices de enrugamento, resultado da exposição das plantas a
elevadas temperaturas durante a fase de enchimento de grãos. Não há evidências, até o
momento, de que o problema foi causado por uma nova doença, mas a Embrapa e
instituições parceiras vêm pesquisando mais hipóteses para descobrir o que causou o
apodrecimento das vagens de soja. Assim, está isolando fitopatógenos, avaliando a nutrição
das plantas, entre outros fatores.
Pesquisadores da Embrapa Soja estão coletando amostras de solo e de plantas em algumas
lavouras de soja afetadas pelo problema para gerar dados que permitam avançar na
elucidação das suas causas. O que intriga os pesquisadores é que, numa mesma região, com
a mesma condição climática, algumas lavouras são afetadas pelo problema e outras não.
Uma pesquisa da Universidade Federal do Mato Grosso revelou que temperaturas elevadas
e restrição hídrica prejudicaram o crescimento das vagens na última safra 2020/2021.
Quando os grãos começaram a se formar não havia espaço suficiente, gerando fissuras nas
vagens. Por meio dessas aberturas, fungos entraram na planta e causaram o
apodrecimento das vagens. Em alguns casos mais extremos, as perdas chegaram a 50%,
levando em conta a quantidade e a qualidade dos grãos, segundo a pesquisa.