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Alta do dólar beneficia competitividade do produtor brasileiro

A moeda norte-americana tem sido determinante para a competitividade do produtor brasileiro, especialmente aqueles que se dedicam a culturas voltadas à exportação. Apesar dos eventuais efeitos negativos no custo de alguns insumos, especialistas afirmam que o saldo é positivo para o produtor, já que a taxa de câmbio acaba influenciando principalmente os preços.
O consultor em agronegócios Ênio Fernandes afirma que entre 35% e 40% do custo dos produtores é dolarizado, o restante são despesas em reais como mão de obra, impostos e a fatia destinada ao sustento da família. “Por isso se o dólar sobe muito, o preço da commodity em reais vai aumentar também, e quase 60% dos custos não serão afetados por esta taxa de câmbio, o que melhora a competitividade do produtor", explica.
Um bom exemplo deste cenário é o que está ocorrendo com a soja. De agosto de 2019 a março de 2021, por exemplo, o preço da soja em reais, no porto de Santos, subiu mais de 95%. A alta está relacionada a elevação dos preços em dólar no mercado internacional e também a taxa de câmbio, já que a moeda americana se valorizou em relação real no mesmo período. Em 30 agosto de 2019, o dólar valia R$4,14 , o preço do bushel na Bolsa de Chicago estava em US$ 8,69 e o valor da soja nos portos era cotado em R$ 88,50. No final de março deste ano, o dólar estava em R$ 5,62 , o bushel em Chicago alcançava US$ 14,36 e o preço do grão nos portos estava em R$ 173,00. Na prática, significa que, mesmo que a cotação internacional da soja estivesse a mesma neste intervalo, sem nenhuma alta em dólar, somente a diferença no câmbio já garantiria um aumento de quase 36% no preço recebido em reais pelo produtor brasileiro.
"É um cenário raro, em que o produtor é bastante favorecido”, diz Fernandes. O analista destaca que a combinação de alta nos preços internacionais da commodity com dólar alto no Brasil está garantindo excelentes patamares para que os produtores tomem suas decisões de comercialização e investimento. Segundo ele, quanto mais ao Norte do Brasil, mais o produtor é beneficiado pelo dólar já que o frete, a distância do porto, é maior. Ênio Fernandes lembra que alguns produtores até contratam financiamentos em dólar, mas ainda representam a minoria. “Na região Sul, por exemplo, é muito difícil encontrar situações como esta, a maioria expressiva faz negócios em reais e acaba se beneficiando desta variação, quando ela é positiva", explica. O analista acrescenta que outros fatores também determinam o preço da soja como o prêmio, as taxas portuárias, entre outros, mas ressalta que o câmbio é o que mais pode influenciar para cima ou para baixo as cotações no Brasil.