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Biológicos: entenda por que o uso de produtos certificados acaba valendo a pena

Com o crescente uso dos produtos biológicos na agricultura, é cada vez maior a necessidade de se ter um controle de qualidade adequado, que garanta melhores resultados de produtividade e o controle de doenças e pragas. Adquirir produtos de fabricantes registrados e contar com suporte técnico são alguns dos caminhos para ter mais sucesso nesta prática. Confira as principais dicas para ser mais assertivo no manejo biológico.

O uso dos chamados bioinsumos vem crescendo no Brasil, seguindo uma tendência mundial. De acordo com a Embrapa, somente com a cultura da soja, estima-se que o uso dos bioinsumos proporcione uma economia superior a US$ 15 bilhões por ano, através da fixação biológica de nitrogênio. Os biológicos contemplam desde enzimas, microrganismos, feromônios, extratos de plantas ou de microrganismos, até os ativos voltados para nutrição das plantas e substitutivos de antibióticos. São em sua maior parte usados como inseticidas, fungicidas, bactericidas, explica Miriam Maria de Resende, professora da Faculdade de Engenharia Química da Universidade Federal de Uberlândia (MG). Entretanto, os biológicos também são utilizados para acelerar os processos de biodegradação dos resíduos orgânicos, melhorando a estrutura e o perfil do solo e contribuindo para a liberação de nutrientes para as plantas.

Os produtos biológicos podem ser adquiridos diretamente das indústrias, que replicam os materiais seguindo vários parâmetros de segurança e qualidade, ou produzidos nas propriedades agrícolas para uso próprio, prática conhecida como produção on-farm, a partir da replicação de produtos comerciais adquiridos no mercado ou por meio de pré-inóculos preparados por empresas especializadas.

A replicação dos biológicos em sistema industrial garante um controle de qualidade e todo um processo de esterilização/assepsia para evitar que outros microrganismos presentes no ar e nas pessoas envolvidas no processo de produção não se reproduzam, causando danos às lavouras ou à saúde humana, diz Fabrício Porto, gerente de Inovação da Satis. Os produtos comerciais seguem processos rígidos para registro e comercialização, com garantia de pureza, concentração e identidade dos microrganismos presentes nos biológicos, diz a Embrapa.

Além disso, as empresas idôneas que comercializam biológicos têm registro no Ministério da Agricultura e oferecem suporte técnico aos produtores para a utilização correta dos biológicos. O uso correto permite que se atinja todos os seus benefícios para as lavouras, tanto para a promoção de crescimento vegetal, quanto para o controle de insetos, pragas e doenças. Nas indústrias, também há todo um controle para o armazenamento dos biológicos. Outra vantagem é que caso o produto apresente alguma falha, o produtor rural poderá ser ressarcido, afirma Porto.

O produtor que adquire os biológicos das empresas deve se atentar às recomendações dos fabricantes, como seguir o manuseio indicado e contar com o auxílio de profissionais especializados para dar todo o suporte técnico. O armazenamento é ponto crucial por se tratar de produto muito sensível às temperaturas. Um barracão sem ventilação adequada, por exemplo, pode matar os biológicos. Uma dica é não armazenar os produtos por muito tempo após a compra. Outra recomendação é que o produtor sempre compre os biológicos registrados pelo Ministério da Agricultura, diz o gerente da Satis.

Como a produção de biológicos é muito complexa, envolvendo diferentes fontes de produtos/microrganismos, os cuidados na manipulação do material são extremamente importantes, pois além dos riscos de contaminação, também há risco de perda de eficácia dos biológicos, enfatiza a professora Miriam de Resende.

Caso o produtor rural tenha interesse em replicar os biológicos em sua propriedade, precisa ter orientação de profissionais especializados, como engenheiros e biólogos, além de adquirir toda a infraestrutura necessária para a produção, como biorreatores, equipamentos para esterilização, caldeiras, entre outros. Para manipular os produtos, são necessários equipamentos de proteção, como luvas e máscaras. O produtor também precisa saber a formulação necessária, de acordo com os biológicos que pretende produzir e os objetivos de sua produção agrícola. O produtor deveria ter um manual para seguir para evitar contaminações e garantir qualidade para os biológicos reproduzidos, de acordo com a professora. É como seguir a bula de um remédio.

Embora os produtores possam ter custos menores ao replicar os biológicos nas suas próprias fazendas, eliminando assim o custo das formulações finais feitas pelas indústrias, o investimento para montar uma indústria adequada na propriedade é considerado alto. “É uma operação cara”, considerando também os custos com energia elétrica, diz Porto, da Satis.

A Embrapa diz em um artigo que são relatados casos de sucesso em algumas propriedades que investem em infraestrutura para a produção on-farm dos biológicos, mas também há casos de produções precárias e ineficientes, gerando produtos sem qualidade. Nestes casos, os microrganismos alvos de multiplicações não atingem concentrações adequadas. Além disso, ocorre proliferação de contaminantes que resulta em produtos com baixa ou nenhuma eficiência e com risco à saúde humana, de animais e plantas.

Em um trabalho sobre a qualidade de inoculantes à base de Bradyrhizobium e Azospirillum, produzidos em fazendas de várias regiões do Brasil, a equipe da Embrapa Soja constatou que 100% das amostras analisadas estavam contaminadas com vários microrganismos; 44% apresentavam isolados pertencentes a gêneros que abrigam potenciais patógenos humanos, sendo que 1/3 destes potenciais patógenos apresentava resistência a agentes antimicrobianos. Resultados semelhantes foram encontrados em amostras de bioinseticidas produzidos on-farm, à base de Bacillus thuringiensis, em trabalhos conduzidos pela Embrapa Milho e Sorgo em Goiás e Mato Grosso, diz o artigo publicado em novembro de 2021.

Com todos os riscos inerentes, a Embrapa defende que a atividade de produção de biológicos on-farm deve ser regulamentada porque produtos de má qualidade podem prejudicar a imagem positiva dos bioinsumos, construída ao longo de anos, além de trazer danos à saúde e ao meio ambiente. Então, o produtor consciente que busca seguir todos os protocolos de segurança e qualidade, independentemente se produz biológicos on-farm ou adquire de empresas, vai contribuir para o crescimento deste mercado, evitar prejuízos e garantir melhores resultados nas suas lavouras.