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Crédito rural: como acessar fontes alternativas para financiar a lavoura

Houve um tempo em que o agricultor só tinha dois caminhos para financiar a produção: ou já tinha recursos da própria família ou tentava ser bem recebido no banco público mais próximo, geralmente o Banco do Brasil. E nem isso dava certo, afinal dependia da região, da cultura, do governo da época, enfim, muitas variáveis. Ainda bem que o cenário vem mudando e há cada vez mais uma oferta de crédito de fontes diferenciadas, principalmente de cooperativas e empresas, que passaram a contar com mecanismos mais modernos, ligados ao mercado financeiro.

A última novidade neste assunto foi a chamada “Lei do Agro” que teve uma parte aprovada em 2021 e depois contou com novos avanços aprovados pelos poderes legislativo e executivo em 2022. A legislação trata, entre outros assuntos, dos títulos conhecidos como CPRs – Cédulas de Produto Rural – que ficaram mais versáteis e com isso se tornaram mais atrativos para investidores do mercado financeiro, o que, na prática, aumenta o volume de recursos disponíveis para que bancos e empresas possam financiar os agricultores.

As mudanças são necessárias porque a produção agrícola não para de crescer, ao mesmo tempo que os governos contam com recursos limitados e orçamentos enxutos. Já não é mais possível financiar a produção agrícola como um todo somente com dinheiro do Tesouro Nacional e juros subsidiados. Cada vez mais os médios e grandes produtores deverão contar com estes mecanimos mais modernos do setor financeiro. Já os recurso públicos deverão priorizar o subsídio aos juros praticados para pequenos produtores, como é o caso do Pronaf – Programa Nacional de Agricultura Familiar.

O consultor em agronegócio e ex-secretário de Política Agricola do Ministério da Agricultura, Ivan Wedekin, explica que essa realidade já vem aparecendo em números. Em 2002/2003 o Pronaf concedia cerca de R$ 2,5 bilhões em crédito com juros mais baixos aos pequenos produtores. Atualmente, esta oferta do Pronaf está próxima de R$ 40 bilhões por safra. "Independentemente de qual seja o governo, a tendência é essa, os médios e grandes produtores serão naturalmente direcionados aos novos mecanismos financeiros de crédito rural e o crédito rural oficial, com taxa de juro subsidiada, tende a seguir entre os pequenos produtores”, afirma Wedekin.

Como acessar o crédito

Quando se fala de custeio das lavouras, cerca de 40% dos recursos em nível nacional ainda tem como origem o crédito rural tradicional, por meio de bancos públicos ou nas modalidades em que os bancos privados contam com vantagens e obrigações para financiar a agropecuária. Por isso o primeiro passo é procurar o gerente das agências
mais próximas e entender quais linhas ainda estão disponíveis e quais são as exigências atuais.

O produtor que tiver dificuldade junto aos bancos deve procurar cooperativas agrícolas ou cooperativas de crédito, que vem aumentando a oferta de recursos e oferecem juros vantajosos, orienta o consultor Ivan Wedekin. Os bancos cooperativos cresceram muito nos últimos anos e hoje já respondem for 20% destes financiamentos, segundo ele.

O terceiro degrau na busca pelo crédito são as empresas e tradings, que oferecem a chamada operação de "barter”, em que o produtor financia os insumos, garantindo o plantio e depois paga com o produto que será colhido. As grandes empresas vêm se beneficiando das novas ferramentas de crédito, como a emissão de títulos do agronegócio, contando com vantagens do mercado financeiro e a tendência é de que com isso consigam repassar juros mais adequados ao produtor rural, afirma o consultor.

Por último, estão as oportunidades mais recentes e mais complexas do mercado financeiro. Um bom exemplo é a LCA – Letra de Crédito do Agronegócio – um tipo de investimento de renda fixa. Qualquer cidadão, mesmo que não tenha relação com o agro, pode aplicar seu dinheiro em LCA, como se fosse um outro investimento qualquer. A vantagem para ele é que não pagará imposto de renda sobre este investimento, já que o governo incentiva o fato de estar relacionado ao agro. E a vantagem ao produtor é que o dinheiro captado em LCAs é obrigatoriamente aplicado na concessão de financiamentos à agricultura. Em junho de 2021 a quantidade de LCAs já emitidas no Brasil era de R$ 154 bilhões, enquanto em junho deste ano, o valor já está em R$ 268 bilhões, um avanço significativo.

Portanto a dica ao produtor é estabelecer relacionamento com bancos e tradings e perguntar sobre estas novas opções disponíveis. Ele pode não ter tamanho suficiente para se envolver diretamente na emissão de títulos, mas pelo menos agora está mais fácil para as empresas ter maior segurança de crédito e reduzir exigências, facilitar o acesso ao dinheiro. Não deixe também de verificar as linhas subsidiadas de instituições públicas como o Banco do Brasil destinadas a pequenos e médios produtores. Iniciativas como a Agricultura de Baixo Carbono, por exemplo, com a adoção de práticas sustentáveis, podem render financiamento adicional para planos de investimento que o produtor pretenda fazer.