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Ferrugem da soja: aumenta número de casos na safra 2022/2023; saiba como combater a doença

A ferrugem da soja é uma das doenças que mais afetam a cultura, sendo considerada a mais severa para a soja, pois pode causar perdas de até 90% de produtividade se não controlada. Os casos de ferrugem da soja nesta safra 2022/2023 vêm aumentando significativamente, o que acende o alerta para os produtores tomarem algumas medidas para tentar controlar o avanço do fungo. Neste post, confira as dicas de alguns pesquisadores para o combate à ferrugem da soja.
Os primeiros esporos da ferrugem asiática da soja nesta safra 2022/2023 foram registrados em novembro do ano passado no Rio Grande do Sul, em áreas de soja voluntária, nas cidades de Pântano Grande e Passo Fundo, de acordo com o Consórcio Antiferrugem, grupo criado em 2004 formado por pesquisadores de instituições públicas e privadas e que conta com laboratórios capacitados em todo o país para identificar a ferrugem asiática da soja. Atualmente, no acumulado desta safra até a terceira semana de janeiro, os casos identificados de ferrugem da soja somam 48 e, em sua grande maioria, afetam as lavouras que se encontram no estádio R5, ou seja, na fase de enchimento dos grãos.
Recentemente, a Fundação Mato Grosso divulgou a ocorrência de focos de ferrugem asiática em lavouras comerciais na região de Itiquira, no sul do estado, depois de a doença também ter sido registrada em dezembro de 2022 em Campo Verde. O que preocupa agora é que estes casos no sul de Mato Grosso foram registrados em lavouras plantadas no início da janela de semeadura. Antes, a incidência do fungo vinha ocorrendo apenas em lavouras de soja plantadas mais tardiamente.
Mônica Müller, pesquisadora da área de Fitopatologia e Biológicos da Fundação MT, diz que a preocupação é que a soja plantada mais tardiamente vai sofrer ainda mais pressão da doença. O foco de ferrugem encontrado em Itiquira foi em soja cultivada na primeira quinzena de outubro, mas ainda há lavouras na região cultivadas na segunda quinzena de outubro e início de novembro.
Os focos de ferrugem da soja nas lavouras mais novas ocorreram em função do período muito chuvoso, extremamente propício para o estabelecimento da doença. As chuvas muito intensas também prejudicam a aplicação de fungicidas e ajudam na eliminação dos fungicidas já aplicados, explica a pesquisadora.

O que fazer se o produtor encontrar foco de ferrugem da soja?

A primeira orientação é que o produtor não deixe de fazer nenhuma aplicação de fungicida, mantendo todas as aplicações programadas e, se necessário, adicione uma aplicação, garantindo assim uma cobertura até o fim do ciclo da soja, diz a pesquisadora da Fundação MT.
Outro ponto importante é o cuidado com a fitotoxidez na cultura. É preciso cautela com as misturas que serão feitas de fungicidas a serem aplicados, já que a soja está em um momento mais sensível, justamente causado pela aplicação de fungicida. Desta forma, não é necessário neste momento começar com aplicações sequenciais com uma carga enorme, com intervalos muito pequenos de três, cinco ou sete dias de aplicação, pois o fungicida vai funcionar muito mais preventivamente. Então, a aplicação pode ser feita em um intervalo um pouco maior do que este período, não sendo necessário intensificar as aplicações com intervalos fora dos recomendados 14 dias. Pode até reduzir um pouco este intervalo, mas não entrar a cada três dias, alerta Mônica Müller.
É importante fazer a rotação de grupos químicos ou ingredientes ativos dentro de cada grupo de fungicidas para minimizar o risco de surgir a resistência do fungo a estes produtos. Muito importante é adicionar o fungicida multissítio a essas aplicações, o que aumenta a eficácia do controle da ferrugem da soja e minimiza o avanço da doença na planta, o que pode aumentar a produtividade no final, além de ajudar a proteger a tecnologia dos fungicidas, afirma João Paulo Ascari, pesquisador da Fundação MT. Fungicidas multissítio são aqueles produtos com ação de proteção de contato que formam uma camada protetora contra a germinação dos fungos.
Há ainda outras estratégicas que os produtores de soja podem adotar, como o uso dos produtos biológicos, cujos estudos apontam sua eficácia no controle da ferrugem da soja.
Com a previsão de mais chuvas no sul de Mato Grosso, a doença pode se disseminar muito mais rapidamente, pois a ferrugem da soja consegue fazer um novo ciclo da doença, liberar esporos, em sete dias. Além disso, com a intensificação da colheita da soja neste fim de janeiro, a ferrugem presente nestas lavouras vai acabar se deslocando com o vento para áreas mais próximas daquelas já colhidas, aumentando os inóculos em áreas que foram semeadas no fim de outubro e início de novembro. Então, é hora de ter mais cautela, lembra a pesquisadora Mônica Müller.

Outras medidas de controle da ferrugem
Uma medida muito importante, de acordo com o pesquisador Ascari, é respeitar o vazio sanitário da soja, o período em que é preciso manter o campo livre de plantas hospedeiras do fungo e plantas guaxas de soja que podem estar hospedando as lavouras do grão no período de entressafra. A janela de semeadura também tem um grande impacto. Quem planta mais cedo, de modo geral, tem menos probabilidade de ter ferrugem em suas áreas, pois usam cultivares de ciclo precoce. Além disso, existem várias cultivares que são mais tolerantes à ferrugem da soja, sendo importante priorizar estas variedades como uma medida genética do controle da doença.
Com o surgimento de focos da ferrugem da soja, é importante fazer o monitoramento frequente da lavoura, com uma frequência de quatro a cinco dias, para acompanhar o aparecimento dos primeiros sintomas, observa o pesquisador.