WhatsApp

Blog

Saiba como reduzir a fitotoxidade da soja e ganhar produtividade

Quando a produtividade cai, o produtor sente na pele. No caso da soja transgênica os primeiros anos foram de ganhos na lavoura, com redução de custos e uso mais racional de agroquímicos. Não há dúvidas que a biotecnologia veio para ficar e cabe à pesquisa monitorar eventuais efeitos indesejados e indicar os caminhos para superar os desafios. Um destes efeitos é a fitotoxidade, quando agentes externos interferem no metabolismo das plantas, podendo até mesmo reduzir a produtividade, algo que vem sendo verificado na soja. A boa notícia é que a ciência já desenvolveu produtos capazes de neutralizar este problema, por meio da nutrição das plantas.

Na cultura da soja o problema da fitotoxidade está associado à ação do herbicida glifosato. A soja possui bactérias nos nódulos, em sua raiz, que auxiliam na absorção de nitrogênio, elemento fundamental para a planta. É a chamada fixação biológica de nitrogênio (FBN), um processo natural que ocorre em associações de plantas com bactérias diazotróficas, permitindo que o nitrogênio seja capturado do ar e fixado por estas bactérias. Porém, quando o glifosato é aplicado na soja RR, este herbicida pode prejudicar a simbiose com o rizóbio devido a intolerância das bactérias diazotróficas ao ingrediente ativo. Quer dizer, a soja é tolerante ao glifosato, mas as bactérias que estão nos nódulos não, elas acabam sendo suscetíveis ao efeito do herbicida. E os principais danos para a planta, conforme já comentamos anteriormente aqui no blog, são a redução na FBN e na concentração de diversos nutrientes minerais, o que compromete o desenvolvimento da planta, diminuindo a produtividade.

Mas como resolver isso? Simples, basta adotar cuidados extras para preservar a nodulação. A professora da Faculdades Associadas de Uberaba (Fazu), Soraya Marx Bamberg, explica que o glifosato atua por meio da inibição da enzima EPSPs na rota do ácido chiquímico e na síntese de aminoácidos essenciais às plantas: fenilalanina, tirosina e triptofano. Quer dizer, o herbicida impede que os microrganismos produzam compostos que são vitais para sua sobrevivência. A saída, portanto, é fornecer estes compostos e preservar a saúde das bactérias que, consequentemente, vão garantir a fixação de nitrogênio.

O uso de fertilizantes que tenham esta capacidade pode trazer resultados surpreendentes. Trabalhos de campo acompanhados pela Satis, primeiro avaliaram os efeitos visuais de fitotoxidez em áreas tratadas com o glifosato. Em 10 dias, mais de 41% das plantas apresentavam sinais do problema. Em outra lavoura, além do glifosato, foi aplicado um fertilizante foliar com propriedades para fortalecer os nódulos e o resultado foi apenas 9,4% de sintomas visuais da fitotoxidez.

Nesta mesma pesquisa o número de nódulos da raiz principal da soja na área com reforço nutricional foi em média 70% maior que a lavoura onde só aplicou o glifosato. Já nas raízes secundárias o incremento no número de nódulos foi de 61%, na mesma comparação.

Pense nos nódulos como a "boca” da planta para fixar nitrogênio. É por isso que quando se analisa a produtividade, os números são ainda mais expressivos. Uma área tratada só com glifosato teve rendimento médio de 49,4 sacas por hectare. Já uma lavoura na mesma região recebeu além do herbicida, o fertilizante à base de cobalto, molibdênio e zinco. A produtividade subiu para 61,9 sacas por hectare.

O produto utilizado nestas pesquisas de campo foi o Vitaphol Soymax, da Satis,
um fertilizante mineral para aplicação foliar, desenvolvido para uso em leguminosas. Além de ser rico em cobalto, molibdênio, zinco e aminoácidos, o produto contém compostos que atuam na rota do ácido chiquimico, conforme explicamos anteriormente. Vale esclarecer que cobalto e o molibdênio participam ativamente da fixação biológica de nitrogênio. O cobalto é um alimento para o nódulo e o molibdênio acelera o processo de assimilação do nitrogênio na forma gasosa para uma forma que a planta assimile. Já o zinco participa do caminho metabólico do triptofano até a auxina, hormônio envolvido no evento inicial da expansão celular. É exigido em pequenas quantidades, embora seja imprescindível para obtenção de altas produtividades.

E o manganês?

Um efeito que vem sendo atribuído à fitotoxidade do glifosato é a menor concentração de clorofila, em função de alterações na taxa fotossintética. Na pesquisa que mencionamos acima com o uso do Soymax este problema ficou evidente. Dez dias após a aplicação de glifosato, o teor de clorofila estava na média de 46,1mg/g, já na área que recebeu o herbicida mais a aplicação do Vitaphol Soymax, o teor subiu para 53,1 mg/g.

Trabalhos acadêmicos também vem tratando do amarelecimento foliar denominado “Yellow Flashing” e muitos produtores passaram a usar o manganês junto com o glifosato, na tentativa de minimizar estes efeitos. Diversos especialistas, no entanto, vêm afirmando que esta aplicação de manganês não auxilia de forma efetiva no abrandamento dos danos promovidos pelo herbicida. O que ocorre na prática é que ao aplicar o manganês, as folhas ficam mais verdes, dando a impressão de que visualmente a planta está bem, mas na realidade o metabolismo não melhora, dizem os pesquisadores. Isso porque o manganês não possui efeito positivo na nodulação ou na redução de toxicidade do nódulo, portanto esta prática não ameniza a baixa fixação biológica de nitrogênio no período onde está ocorrendo a inibição/formação do nódulo. Um estudo publicado em 2015 por pesquisadores de Uberlândia concluiu que não houve impacto positivo da aplicação de manganês na produtividade da soja.