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Soja pode ser aliada para reduzir emissões de carbono

Apesar de ser alvo de muitas críticas quando o assunto é sustentabilidade, a agricultura brasileira mostra que está cada vez mais engajada nas questões relacionadas ao meio ambiente e assume um papel importante no tema mudanças climáticas. A prova disso é uma pesquisa a campo que avaliou lavouras de Mato Grosso em relação às emissões de gases causadores do efeito estufa e o sequestro de carbono proporcionado pela cultura. Os dados revelam que, quando o produtor rural adota práticas conservacionistas, a soja se transforma em aliada para reduzir as emissões de carbono.

A pesquisa foi liderada pelo pesquisador da Esalq/USP, Carlos Eduardo Cerri, que atuou em parceria com uma consultoria privada. Foram acompanhadas 17 fazendas de Mato Grosso na safra de soja 2020/2021. Algumas estavam localizadas no bioma Cerrado e outras no bioma Amazônia. Uma parte delas eram áreas já consolidadas, com produção de soja há mais de 10 anos e outras eram lavouras mais recentes.

"Nós fizemos a avaliação do balanço de carbono, ou seja, verificamos as entradas, que se referem ao sequestro de carbono proporcionado pelo cultivo da soja e também observamos as emissões de gases causadores de efeito estufa na atividade”, explica Cerri.

A produção de soja contribui para essa emissão de gases causadores do efeito estufa de diversas formas: no uso de fertilizantes, já que uma parte vira gás e vai para a atmosfera, na calagem, já que o calcário reage com a água e emite gás carbônico (CO2), no uso de combustíveis ao movimentar as máquinas que funcionam com óleo diesel, além de diversos outros exemplos.

"Do outro lado da equação está o sequestro de carbono, já que as plantas fazem a fotossíntese e retiram CO2 da atmosfera", explica o pesquisador. Ele lembra que mais de 60 compostos da planta contêm carbono. Quando a soja é colhida, as raízes e a parte aérea da planta ficam no solo, já que atualmente predomina nas principais regiões produtores o sistema conhecido como plantio direto, em que se incentiva a presença da "palhada" no solo. É neste momento que os resíduos das plantas sofrem um processo de decomposição, por intermédio de microrganismos, fazendo com que o carbono da planta passe para o solo, configurando o que se chama de sequestro de carbono.

"Isso ocorre neste modelo em que não há aragem do solo, afinal, caso a terra fosse revolvida, o processo seria perdido, o solo faria voltar para a atmosfera o carbono que foi sequestrado”, esclarece Cerri. Ele destaca que outras práticas conservacionistas, como a rotação de culturas, o uso de um mix de plantas de cobertura para reforçar a palhada, são fundamentais neste processo.

Padrões internacionais

Para medir o balanço de carbono na soja, a pesquisa utilizou a metodologia internacional do chamado IPCC (Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas, na sigla em inglês).

"O balanço é positivo quando o resultado é um número negativo", explica o pesquisador. A pesquisa concluiu que o valor médio de emissão das lavouras de soja analisadas foi de 0,57 toneladas de carbono por hectare. Enquanto isso, o sequestro de carbono médio chegou a 2,24 ton de CO2/ha. Portanto o valor ficou negativo em 1,6 ton de CO2/ha, o que significa que a cultura contribui para reduzir as emissões que causam as mudanças climáticas mundialmente.

O estudo foi encomendado pela Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja-MT). A expectativa dos pesquisadores é de novas etapas ainda sejam desenvolvidas futuramente. "Este mapeamento pode ajudar na busca de remuneração no mercado de crédito de carbono, o que ainda é um processo complexo, mas também em outras iniciativas voltadas à valorização de práticas sustentáveis", disse Cerri.